Veja o exemplo de um caso simples que me aconteceu, mas que ilustra uma questão complexa: em nome da eficiência, podemos matar a eficácia de um projeto.
Há mais de 30 anos somos assinantes de um jornal de grande circulação. Durante todos esses anos, o jornal foi entregue em nossa porta, até as 6:30 hs da manhã, conforme estipulado no contrato de prestação de serviços. Podíamos lê-lo confortavelmente antes de sair para o trabalho e, assim, começarmos o dia bem informados.
De um ano para cá, o jornal começou a ser entregue às 7:00, 7:30 e depois 8:00 e 8:30 hs. Passamos a sair sem ler o jornal. E, hoje em dia, na era da internet, cada vez mais a notícia se desvaloriza com uma rapidez enorme. Fizemos inúmeras reclamações ao teleatendimento, e nada: continuávamos recebendo o jornal com o mesmo atraso.
A explicação do entregador do jornal, homem simples que empurrava a pé o seu carrinho de mão cheio de jornais madrugada a dentro, era de que cada vez mais “eles” vinham reduzindo o número de entregadores do jornal. E, com isto, o percurso dele estava se tornando maior, e ele com mais jornais para entregar ….
Então, deduzimos que atender ao público do jornal impresso havia deixado de ser objetivo da empresa. Liguei para o teleatendimento e comuniquei que queria cancelar a nossa assinatura, de tantos anos. Logo no dia seguinte, recebi uma ligação do jornal pedindo um prazo de experiência, uma oportunidade para eles tentarem solucionar o meu problema.
De fato, nesse ínterim o jornal voltou a ser entregue no seu horário habitual de antes. Daí porque na nova ligação que voltei a receber da equipe do jornal, suspendi o cancelamento.
Nesse caso descrito, veja que o critério da eficácia estava relacionado à entrega de informação de boa qualidade, dentro do prazo acordado. Porém, na busca por maior eficiência (corte de custos), a condição do prazo havia deixado de ser atendida. Muito embora, como ficou depois evidenciado pela reação da empresa, o prazo continuava sendo um objetivo de resultado desejado.
Dito de modo figurado, a empresa estava matando a eficácia em nome da eficiência. Fica, pois, o alerta, sobretudo em se tratando da gestão de projetos sociais: é muito comum (mais até do que se pensa!) sacrificar a eficácia por conta da eficiência. A meu ver, o critério da eficácia deve ser pré-requisito para a análise da eficiência. De nada ou pouco adianta ser eficiente, se não for eficaz.
Maria Inês
Muito esclarecedor e eficaz o seu exemplo de quando a eficiência mata a eficácia. Da mesma forma, ficaram bem elucidadas as razões de nos mantermos alertas para não comprometer a eficácia em nome da eficiência. Parabéns pelo artigo, Dra. Maria Cecília!