4 lições de uma experiência de DOAÇÃO bem-sucedida

Por on 05/11/2024

As lições abaixo foram extraídas da experiência da Middlesbrough Collaboration, uma parceria celebrada em 2021 entre organizações doadoras [Turn2us, Buttle UK e Smallwood Trust] e organizações comunitárias [Ubuntu Multicultural Centre e Creative Minds Middlesbrough] da Inglaterra, no combate à pobreza de mulheres e crianças na área de Newport em Middlesbrough, região muito deprimida no Noroeste do país. Essas lições estão relatadas em newsletter recente da New Philantrhopy Capital (NPC, 04.11.2024) por Rose Williams, que é gestora de programa na Middlesbrough Collaboration.

A meu ver, essa curta narrativa de Rose Williams serve para reforçar aspectos relevantes no campo da filantropia que nós, aqui no Brasil, estamos também vivenciando. Senão, vejamos quais foram as 4 lições destacadas por ela:

Primeiro, confiança é tudo. No início, muitas mulheres ficavam desconfiadas, questionando as nossas intenções. Pensavam que as doações do Programa não passavam de uma farsa. Para construir confiança, aprendemos que precisávamos criar espaços seguros e acolhedores. Nisha, uma das 50 mulheres apoiadas até o momento, afirmou que:

“No princípio, ficamos nervosas e relutantes para ver como isso ia funcionar. Mas depois, quando eles nos perguntaram sobre as nossas próprias experiências e quais as dificuldades que os pais estavam enfrentando aqui, nós vimos que era útil e que a nossa opinião estava sendo ouvida”

Segundo, é preciso flexibilidade dentro de uma estrutura pré-estabelecida. Aprendemos que, embora seja importante estabelecer diretrizes, como limites orçamentários e critérios de elegibilidade, ser muito rígido pode sufocar a própria colaboração que pretendemos promover. Assim, o Programa tem que ter uma estrutura clara, porém adaptável às necessidades dos participantes.

Terceiro, comece sempre com uma ideia, mas não com um quadro em branco. No início, até tivemos algumas conversas e workshops “estranhos”, pois queríamos ser integralmente conduzidos pelos participantes do Programa. Mas, logo concluímos que apresentar uma ideia inicial e perguntar ‘o que vocês acham?` funcionava bem melhor do que simplesmente começar com um quadro em branco. Ou seja, introduzir uma estrutura básica e deixar espaço suficiente para mudar as coisas acabou sendo muito mais eficaz.

Quarto, medir impacto de longo prazo continua sendo um desafio. Métricas tradicionais nem sempre capturam o impacto total de “projetos co-produzidos”. Temos usado storytelling e grupos focais como ferramentas qualitativas para entender o impacto das nossas doações. Assim, em nosso workshop final , a gente costuma usar a técnica da pergunta sobre ‘qual foi a mudança mais significativa?`de modo a poder identificar histórias pessoais de sucesso do Programa. Por exemplo, Nisha, uma das participantes (figura acima), observou que

“Minha vida mudou quando eu me conectei com a colaboração. Não foi apenas a doação financeira que me ajudou, mas os workshops e a comunidade que foi crescendo ao meu redor. É sobre saber que você não está sozinha, que tem toda uma rede que te dá suporte e que está pronta a te levantar.”

Como visto, esse depoimento de Rose Williams destaca o potencial da filantropia colaborativa no território, o saber planejar mas com flexibilidade para mudar, o saber dialogar com o público beneficiário, e o saber construir um ambiente de confiança entre todos os grupos envolvidos.

Mostra que também no Reino Unido a medição de impacto continua um desafio metodológico, e a recomendação é a de fazer uso de técnicas simples e diretas para levantar evidências de impacto. E, muito possivelmente, na grande maioria das iniciativas sociais, esse procedimento de avaliação pode ser suficiente para demonstrar efetividade, indo na linha do “medir menos, avaliar mais”.

TAGS
POSTS RELACIONADOS

DEIXE UM COMENTÁRIO

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

MARIA CECÍLIA PRATES RODRIGUES
Rio de Janeiro - Brasil

Maria Cecília é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV , e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado.