Nos projetos sociais desenvolvidos por organizações do terceiro setor, a maioria de pequeno porte, será que é possível conciliar confiabilidade da avaliação e simplicidade do método?
Sou defensora de que a avaliação deve ser conduzida de forma simples, confiável, acessível aos seus públicos envolvidos, com poucos indicadores e relevantes para orientar a gestão do projeto. Isso explica o tamanho da minha satisfação ao deparar com o artigo de Olinto Ramos de dezembro de 2017, Uma sociedade afogada em números.
Primeiro, porque o texto dele vai justamente na direção do que eu venho defendendo para a avaliação dos projetos sociais do terceiro setor. O artigo faz um alerta contundente contra a escravização aos números e o exagero da aplicação de métodos complexos, como se isso fosse a garantia para a “verdade” da informação.
E, segundo, porque o Olinto Ramos vem a ser justamente o atual presidente do IBGE, organização por excelência que lida com os números e as estatísticas oficiais do Brasil. Ou seja, não se trata de uma pessoa avessa a números e aos métodos quantitativos. Muito antes pelo contrário.
Assim como ele, sou também crítica da primazia do método em detrimento da análise avaliativa.
Com referência aos projetos sociais, vejo com preocupação a tendência cada vez maior em se atrelar o financiamento dos projetos a requisitos de avaliação, priorizando a pesquisa experimental de impacto e a medição do retorno econômico. E não apenas no Brasil, como também no resto do mundo. Quer isso dizer que os agentes financeiros, sejam do setor público ou corporativo, vêm condicionando os seus recursos à existência de avaliações baseadas em métodos estatísticos e financeiros complexos.
O que ocorre é que esse tipo de avaliação, para ser bem feito e confiável, é oneroso, demorado, e precisa ser conduzido por equipe externa de avaliadores doutores das universidades.
Na maior parte das vezes, é uma exigência que claramente não é adequada às necessidades específicas de avaliação das organizações do terceiro setor. Isso porque são avaliações pouco compreendidas pelas equipes dos projetos, que as enxergam como mais uma tarefa a ser cumprida, ou seja, mais um ônus sem os correspondentes bônus para o trabalho social em si.
E, mais grave, é uma exigência avaliativa que pode ter um efeito perverso de excluir justamente os bons projetos, justamente aqueles que são pequenos ou estão em fase inicial de estruturação, e que têm um vínculo forte com as demandas sociais das comunidades carentes. Assim, seja porque não necessitam dessas avaliações metodologicamente complexas e/ou porque não estão suficientemente amadurecidos para adotá-las, esses projetos acabam ficando à mingua de financiamentos.
Enfim, fazendo um paralelo com o raciocínio de Olinto Ramos, avaliações complexas e que chegam a números precisos quanto à efetividade e ao custo-benefício da intervenção social podem trazer uma falsa aparência de acerto dos resultados encontrados. Na realidade, o que a maioria das organizações sociais precisa é de uma ferramenta de gestão para acompanhar de perto a entrada, a evolução e a saída dos beneficiários, e qual a transformação que o projeto fez na vida deles. Que pode ser simples e confiável, sem ser complexa e onerosa.