Caminho de Santiago: 12 lições aprendidas

Por on 11/07/2024

Fui peregrina por 8 dias em junho último. Percorri a pé 192 kms do Caminho Francês para Santiago de Compostella (noroeste da Espanha), iniciando em Villafranca del Bierzo. Ao final de cada dia, sentia sempre o pé pesado e latejando…. E pensar que há peregrinos (conheci vários!) que fazem a pé a rota completa dos 800 kms.

Pode parecer nonsense essa ideia de ser peregrina. Por que não fazer essa viagem turística confortavelmente de carro?

Uma boa explicação para o termo peregrinação é que “a peregrinação é praticada desde os tempos mais remotos em quase todas as culturas e religiões do mundo. É o ato de realizar uma jornada, individual ou em um grupo de pessoas, até um destino considerado sagrado — seja ele uma cidade, um templo ou mesmo um trajeto. Porém, peregrinar não é apenas caminhar até um determinado lugar, é realizar essa missão por algo maior que o mova e o inspire a ser peregrino. É ter como objetivos encontrar sua essência e seus valores, buscar o sentido da existência e evoluir espiritualmente”.

Sintetizo a seguir algumas das reflexões e lições tiradas durante esse percurso, que tive a maravilhosa oportunidade de fazer em família. Vejo que são reflexões muito válidas para a minha vida como um todo, e que também eu poderia estendê-las para o campo da gestão dos projetos sociais, das empresas privadas ou para a vida profissional de cada um.

1)      Ter clareza de qual é o seu objetivo maior, isto é, o seu propósito na jornada;

2)      Ter um plano e metas para cada dia, mas não se prender a eles;

3)      Saber tomar decisão com firmeza quando surgirem encruzilhadas, avaliando com cautela os riscos de cada alternativa;

4)      Ter disciplina e persistência para seguir o roteiro traçado, pois haverá dias de chuva (fig.), de sol intenso, de vento frio, de subidas íngremes, de descidas escorregadias, de desânimo e cansaço;

5)      Estar consciente de que cada pessoa segue o caminho no seu próprio ritmo; não há ritmo certo ou errado.

6)      Ter força para enfrentar as próprias mazelas e fragilidades que forem surgindo, pois elas vão, sim, aparecer para cada um ao longo do caminho;

7)      Saber encontrar a própria paz de espírito interior, seja fazendo o caminho solitário ou acompanhado de pessoas queridas.

8)      Ser “de verdade” solidário com os outros peregrinos que estão no caminho, pois ‘naquele momento` estamos convivendo com as mesmas dificuldades – e se houver partilha de experiências e afeto, a jornada será mais bem sucedida;

9)      Entender que cada peregrino é diferente em suas competências intelectuais, fragilidades pessoais e físicas, etapas e circunstâncias da vida (idade e condições sócio-econômicas);

10)  Ter alegria para conseguir sentir profundamente a beleza do caminho, que vai se alterando a cada curva e hora;

11)  Saber que (no caminho) tudo passa, nada é para sempre: as paisagens, as amizades e os momentos vividos;

12)  Ter clareza de que a direção é única, pois é sempre para frente que se caminha. Às vezes nos é dada a oportunidade de um breve retorno para corrigir erros, mas nem sempre isso será possível.

Concluo com a saudação que os peregrinos se faziam pelo caminho – Buen Camino!  Que cada um saiba colocar em prática essas lições, ser feliz e promover felicidade ao seu redor enquanto estiver no Caminho e nas diferentes trajetórias (do Caminho) que escolher seguir.

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MARIA CECÍLIA PRATES RODRIGUES
Rio de Janeiro - Brasil

Maria Cecília é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV , e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado.