A minha torcida é para que a resposta seja um retumbante não. Porém, vejo com preocupação o número cada vez maior de textos e artigos exaltando o investimento de impacto social, ou simplesmente investimento de impacto. Só se fala nisso: os empresários de hoje em dia se tornaram (ou estão em via de se tornarem) todos comprometidos, no seu corebusiness, com o fim das injustiças e da exclusão social. Como alegam, as empresas agora são diferentes de como eram antes.
Imagina se perguntássemos aos empresários dos anos 1970, da época de Milton Friedman, se eles também não estavam comprometidos com os investimentos de impacto, o que eles responderiam? Claro que iriam dizer que sim. As empresas bem sucedidas na época eram sinônimo de empresas lucrativas, só assim capazes de multiplicar os empregos (que, em última instância, sustentavam famílias inteiras) e pagar os elevados impostos (revertidos em bens públicos, nas áreas de saúde, educação e assistência social).
E se fizéssemos a mesma pergunta aos empresários por volta dos anos 2005, auge do movimento da Responsabilidade Social Corporativa (RSC), depois denominado por Sustentabilidade? Também iriam responder que sim, que estavam realizando investimento de impacto. E para eles a explicação era óbvia, uma vez que buscavam cuidar dos efeitos dos seus investimentos com o olhar para todos os seus stakeholders, e não apenas para os shareholders, aí incluindo os grupos (até então esquecidos) do meio-ambiente e das comunidades empobrecidas do entorno.
A meu ver, a terminologia das boas intenções corporativas foi evoluindo à medida em que os novos conceitos introduzidos iam ruindo e se tornando desacreditados. Michael Porter e Mark Kramer ilustram bem essa dinâmica: iniciaram com o conceito da “filantropia corporativa” em 1999, substituída pelo da “filantropia estratégica” em 2002, e depois em 2011 pelo do “valor compartilhado” – que viria a ser a base para o atualmente tão propalado investimento de impacto.
Eu discuto essa evolução na terminologia da Responsabilidade Social Corporativa, com cada novo conceito rechaçando o antigo, em alguns artigos que fui escrevendo ao longo dos anos (estão no meu site).
O que me suscitou essa reflexão foi a matéria recente publicada no jornal Valor (09.07.2018), intitulada “Herdeiros lideram investimento de impacto”. Foram entrevistados os netos/filhos de conhecidos investidores e/ou fundadores de grandes empresas brasileiras. Eles dizem que atuam ou pretendem atuar em negócios de impacto, com objetivo duplo e indissociável de gerar simultaneamente lucro e resolver um desequilíbrio social.
Nitidamente eles não querem se ver associados (apenas) à filantropia, RSC, sustentabilidade e ao atendimento dos fatores ESG (ambientais, sociais e de governança) relacionados ao negócio.
Essa nova geração de empresários no Brasil parece ter plena consciência de que todos esses modelos de gestão corporativa fracassaram de modo geral. Haja vista que, como mostrou a história em nosso país nesses últimos anos, as empresas-líderes, classificadas segundo essas metodologias, foram justamente as que mais praticaram corrupção. Donde se pode concluir que esses modelos não funcionam; ou então que as empresas foram muito pouco consistentes na aplicação dessas metodologias, porque na realidade não praticavam o que teorizavam.
Enfim, vale o alerta: o investimento de impacto não pode ser apenas mais uma mudança de terminologia, e a empresa continuar atuando como sempre atuou. Daí, cresce o papel da avaliação como ferramenta de gestão para buscar identificar se o que a empresa diz que faz e gera de impacto social, ela realmente está fazendo e conseguindo atingir.