Lean startup em Organizações Sem Fins Lucrativos? (*)

Por on 14/08/2018

Muita gente acha que startup quer dizer empresa pequena, nova, e do setor de aplicativos. Porém, não é bem isso. E nem necessariamente precisa ser uma empresa. Eric Ries, autor do conhecido livro ´The Lean Startup` (2011) define startup como qualquer “instituição humana (entendida como um grupo de pessoas que se organizam) para criar (inovar / fazer diferente) um produto ou serviço  (que pode ser social), sob condições de extrema incerteza.

Lean (enxuto) startup é, antes de tudo, um método para conceber e gerenciar iniciativas dentro de uma organização, de forma leve e ágil. Surgiu em contraposição ao método tradicional do planejamento estratégico, em que os planos deviam ser perfeitos e minuciosos antes de entrar na fase da execução.

Não que um método seja melhor do que o outro. Muito possivelmente o método lean startup se adapta melhor a setores dinâmicos, a contextos em permanente mudança e (por isso mesmo) em condições de grande incerteza. Atualmente, se investirmos longamente no planejamento, o risco do fracasso cresce consideravelmente, porque tudo o mais seguiu mudando (clientes, fornecedores, tecnologia e o contexto em geral) menos o plano. Daí, ao primeiro choque com a realidade, o plano, tão cuidadosamente elaborado (e dispendioso!) tende a se mostrar inexequível e inviável, gerando um desperdício grande de recursos.

No Brasil, acredito que até hoje o método do lean startup tem sido aplicado basicamente no ambiente dos negócios, em que se busca implementar a ideia do MPV (Mínimo Produto Viável) de modo a evitar o desperdício de tempo e recursos. Seja em empresas grandes ou até mesmo nas chamadas empresas de impacto social. Porém, ainda não ouvi falar (e me atualizem se eu estiver enganada) do uso do método lean startup em organizações sem fins lucrativos (OSFLs).

Em 2011, Eric Ries já dizia que o lean startup era um método voltado a ajudar qualquer tipo de empreendedor (pessoa ou grupo de pessoas que queira empreender), seja trabalhando em empresa lucrativa, ou em entidade governamental, ou em organização sem fins lucrativos.

Em seu artigo na Stanford Social Innovation Review (2014), Ben Mangan, diretor do Centro para Lideranças do Setor Social da Universidade da California, em Berkeley/EUA, mostrou-se um entusiasta do uso do método ´lean` para as organizações sem fins lucrativos, como maneira para elas expandirem o seu impacto social e eficiência. É uma dinâmica iterativa, com idas e vindas, a partir da ideia-chave da ´aprendizagem validada`.

O método Lean Startup nas OSFLs – os desafios

Achei o texto tão interessante, que fiz a sua tradução para permitir compartilhá-lo de forma mais ampla  [Is Your nonprofit really ready to use de Lean Startup (traduzido)]. Veja que Mangan coloca  4 desafios / alertas importantes, caso a organização social deseje aplicar o método:

  1. Você está preparado para o “fracasso”, ou melhor, para colocar em prática a “aprendizagem validada”? Como o Conselho, os financiadores e a equipe de sua organização vão lidar com o método?
  2. A sua organização tem um bom sistema de informação? Porque se a coleta das informações depender de que participantes e equipe preencham manualmente os formulários, já se pode levantar uma bandeira vermelha.
  3. Será que o método lean funcionaria bem com a cultura da sua organização? Ou será preciso antes estabelecer algumas normas para dar apoio ao método?
  4. Você está preparado para suportar a pressão? Implantar o método vai exigir do empreendedor um investimento considerável em tempo, emoção e liderança.

Mangan conclui o seu artigo afirmando que entender a metodologia é o primeiro passo – e é fácil. Já a parte difícil exige que os empreendedores-líderes promovam a cultura, as competências e os sistemas de informação que as  OSFLs  vão precisar para aproveitar o valor dessa abordagem para o trabalho delas.

 

(*) Em colaboração com Alexandre Rodrigues, a partir de sua experiência na área do planejamento estratégico, empreendedorismo e inovação nas empresas.

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MARIA CECÍLIA PRATES RODRIGUES
Rio de Janeiro - Brasil

Maria Cecília é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV , e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado.