Na reflexão do artigo anterior, eu abordei a relação de complementaridade que deve haver entre a equipe executora e os avaliadores externos, de modo que a avaliação possa realmente contribuir para a condução do projeto social. Porém, a meu ver, essa contribuição pode ser ainda maior se, ao invés da relação de complementaridade, os executores assumirem a centralidade na avaliação dos projetos sociais.
Também Marcelo Garcia, em seu artigo Monitoramento e avaliação – e serviu para alguma coisa? tem essa posição. O seu texto é bastante interessante e provocativo. Levanta aspectos relevantes da avaliação sob a ótica de um experiente gestor público da área social.
A sétima e última provocação trazida pelo autor é sobre quem deve avaliar (e monitorar) os projetos sociais. Ele é incisivo a esse respeito: “quem deve avaliar o trabalho e os resultados de forma constante é a equipe que está envolvida no trabalho…. Avaliar é procedimento da execução. É claro que um olhar externo é muito bem-vindo, mas não substitui o olhar de quem está dentro do processo. Com frequência, muitas secretarias (públicas de serviço social) acreditam que a melhor avaliação é feita com pessoas de fora do processo. Eu não faço parte desse grupo”.
Eu concordo inteiramente com ele, sobretudo em se tratando das organizações do terceiro setor. A avaliação é para ser essencialmente uma ferramenta de gestão da organização e, portanto, deve ser conduzida pela equipe da própria organização. Não quer isto dizer que a equipe deve ser a “dona” do projeto, para decidir sobre o que o projeto faz e como faz. Mas, em razão do seu conhecimento e sensibilidade do contexto social, é ela quem está melhor posicionada para conduzir o planejamento e a avaliação da iniciativa social, em diálogo permanente com os vários públicos envolvidos (beneficiários, financiadores, governos e outros parceiros).
É nesse sentido que a avaliação deve ter e falar a linguagem da equipe executora do projeto, de modo a gerar as informações para responder às suas necessidades específicas na condução do projeto.
Se for o caso, podem ser contratados pesquisadores de campo para aplicar os questionários / fazerem as entrevistas, para não inibir os entrevistados (em geral, conhecidos dos executores), e deixá-los o mais à vontade possível para expressar a sua posição em relação ao projeto.
Da mesma forma, podem ser contratados especialistas para, junto com a equipe executora, desenvolver com ela (e não para ela) as suas ferramentas de planejamento e avaliação, como o marco lógico, questionário e software de base de dados. Nesse caso, os especialistas entram como coadjuvantes na avaliação, e não como os seus fazedores ou principais responsáveis.