O brasileiro ficou mais generoso? Antes de comemorar, rever os dados….

Por on 23/11/2016

A julgar por pesquisa que acabou de ser divulgada pelo CAF (Charities Aid Foundation, 2016), o brasileiro parece, sim, que ficou mais generoso nesse último ano. O CAF realiza pesquisa anualmente desde 2010 para levantar o World Giving Index (WGI), acompanhando a tendência das doações em uma média de 140 a 150 países.

Segundo essa pesquisa, e como sintetiza a tabela abaixo para o Brasil, o Índice Geral de Doação do nosso país subiu de 25 para 34 entre 2015 e 2016 (quanto mais próximo de 100, melhor). Ainda é baixo, mas melhorou bastante – variação de 36%, de um ano para outro. E, no ranking mundial, o Brasil chegou a subir 37 posições, do 105º para o 68º lugar.

Algumas organizações do terceiro setor no Brasil estão vendo esse resultado como motivo para comemoração. A meu ver ainda é cedo!

Essa evolução positiva em apenas um ano é tão surpreendente que, por si só, já mereceria um segundo olhar mais cuidadoso nos dados coletados e/ou na forma de coletá-los. Ainda mais que vai contra a realidade das circunstancias atuais do país. Os últimos anos têm sido bastante sacrificados para o brasileiro, com a grave crise econômica que o país vem atravessando, o que só faz aumentar o desemprego e reduzir a renda das famílias. Consequentemente, prejudicando a disponibilidade das pessoas para a doação, seja em tempo ou dinheiro ou outro tipo de ajuda.

Se formos nesse ritmo surpreendente, muito em breve o Brasil atingirá o patamar dos Estados Unidos, país referência em filantropia no mundo – o que considero pouco provável! Ademais, como revelam os dados do quadro abaixo, diferente do Brasil, o desempenho norte-americano foi bastante estável nesses últimos dois anos, como seria de se esperar. Enfim, são mais evidências em prol da revisão dos dados para o Brasil.

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MARIA CECÍLIA PRATES RODRIGUES
Rio de Janeiro - Brasil

Maria Cecília é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV , e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado.