Um milionário deveria se envergonhar de morrer rico

Por on 15/08/2019

Definitivamente, essa frase (do título) não corresponde à cultura da doação vigente no Brasil.  Pelo contrário, passa longe…… E sabem de quem é essa frase? De Andrew Carnegie, tido como um dos homens mais ricos do mundo de todos os tempos, e também como o pai da filantropia. Nasceu na Escócia em 1835, e faleceu em 11 de agosto de 1919 aos 83 anos de idade.  Assim, na semana passada comemorou-se um século do seu falecimento.

Menino pobre, filho de pais tecelões, aos 12 anos emigrou com a família para a Pensilvânia, nos Estados Unidos, fugindo da forte recessão no Reino Unido. A necessidade fez com que ele começasse a trabalhar muito cedo, sempre estudando à noite – primeiro em uma fábrica de algodão, depois como mensageiro em um telégrafo, e mais adiante secretário e telegrafista do superintendente de uma companhia ferroviária. Aos 21 anos, já era ele próprio o superintendente da companhia ferroviária. E aos 30 anos, fundou a sua própria empresa – a Companhia de Aço Carnegie, que em 1889 se tornaria a maior siderúrgica do mundo.

Em 1901, com 66 anos de idade, Andrew Carnegie vendeu a sua empresa para o banco J P Morgan por US$ 372 bilhões, a preços de 2014, o equivalente a 2,1% do PIB deste ano. A partir daí, passou a se dedicar à filantropia, com a mesma competência  dedicada aos negócios.

Conseguiu a proeza de doar em vida 90% de toda a fortuna que havia conseguido acumular com o seu trabalho. Queria ter conseguido doar os restantes 10% da sua riqueza, mas morreu antes de conseguir.

O foco das suas doações foi a educação. Não porque tivesse paixão pela área (e tinha!), mas porque acreditava que, quando se dá oportunidade para as crianças e jovens adquirirem informação, conhecimento e habilidades, eles próprios vão se ajudar no futuro,  e poderem ajudar aos outros. Ou seja, Carnegie concentrava as suas doações na educação por conta do seu elevado potencial de transformação das comunidades.

O seu legado filantrópico incluiu as doações para inúmeras universidades, institutos de pesquisa, institutos voltados para a paz entre os povos, museus e bibliotecas – tanto nos EUA como no Reino Unido. Concedeu bolsas para que estudantes pobres pudessem cursar o ensino superior; e foi responsável pela fundação de nada menos que 2.509 bibliotecas.

Para Andrew Carnegie, no mundo desigual em que ele vivia, a obrigação dos ricos deveria ser produzir o maior benefício possível para as comunidades. E não querer continuar acumulando. Ele achava que os seus “colegas ricos” deveriam ter essa responsabilidade ética e moral. Dizem que ele pensava assim, não porque fosse religioso (pois ele não era!), mas por filosofia própria de vida.

Agora que comemoramos o centenário de falecimento do Andrew Carnegie, torna-se muito importante para nós, aqui no Brasil, revisitarmos as ideias de Andrew Carnegie. Quem sabe conseguimos dar um upgrade na cultura da doação no Brasil…. estamos precisando! Em breve, voltarei ao tema.

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MARIA CECÍLIA PRATES RODRIGUES
Rio de Janeiro - Brasil

Maria Cecília é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV , e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado.