O problema da desigualdade – estamos em um beco sem saída?

Por on 10/05/2019

O Brasil segue sendo um dos países mais desiguais do mundo. Sem dúvida uma herança maldita do processo de colonização desigual do nosso país, que já deveríamos ter enfrentado com determinação.

Somos um país, que conseguiu se manter continental, apesar de suas muitas e sérias desigualdades regionais e individuais, seja de renda, raça e sobretudo de oportunidades. No Brasil, a desigualdade é uma questão estrutural, que tende a se deteriorar em momentos de crises conjunturais, como as que temos vivido no país desde 2007.

No Brasil prevalece a percepção de que cabe ao Estado o papel central para atuar na redução das desigualdades existentes, por meio de tributação e da oferta de políticas públicas universais (gastos sociais). Pesquisa recente da Oxfam Brasil junto ao Instituto Datafolha (2018) identificou que quase oito em cada 10 brasileiros esperam que os governos ajam para reduzir desigualdades, e 71% dos brasileiros se posicionaram a favor do aumento de impostos para os mais ricos.

Primeira pergunta: Como o Estado pode assumir esse papel central no Brasil, se no momento as três esferas do governo (federal, estadual e municipal) operam, praticamente todas, com déficit público elevado?

De fato, e por diversas razões, no momento o setor público no Brasil NÃO tem condições de assumir esse papel central que se espera dele.

Porém, a desigualdade não é um problema restrito ao Brasil, e vem crescendo na maioria dos países. Veja o caso dos Estados Unidos, país referência quando se fala em desenvolvimento. Lá até os “reis do capitalismo” estão preocupados com a crescente distância que está se abrindo entre ricos e pobres. Tanto que os bilionários norte-americanos – como Ray Dalio (CEO do Fundo Bridgewater), Jamie Dimon (Chefe do JP Morgan) e o megainvestidor Warren Buffet querem ressuscitar o Plano Marshall do pós 2ª guerra mundial, de modo a reconstruir o “capitalismo quebrado” (broken capitalism). Não mencionam abertamente o problema da desigualdade no país, mas da “insuficiência de renda” para garantir a continuidade do dinamismo da economia.

Diferente do Brasil, a percepção prevalecente nos EUA é de uma responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e os filantropos, em prol da recuperação necessária. Por um lado, é preciso fortalecer o lado dos trabalhadores, que precisam de treinamento contínuo e conquista de poder enquanto grupo, para conviverem com as novas tecnologias poupadoras de mão de obra, lucros crescentes e competição cada vez maior. Por outro lado, é preciso que a ideia da geração do valor compartilhado, com benefícios econômicos e sociais simultâneos, se difunda como prática dentro do próprio país.

Segunda pergunta: Para diminuir a distância entre ricos e pobres dentro dos EUA, é possível impedir a expansão do capital para além fronteiras?  Pois é essa mobilidade cada vez maior do capital que pode estar  subtraindo  o desenvolvimento dos EUA em favor de outros países.

De fato, NÃO podemos impedir a expansão do capital para além fronteiras. A globalização faz parte da própria lógica do capital.

Enfim, através dessas duas perguntas, pode parecer que vejo o problema da desigualdade como um beco sem saída. Não é isto. Mas é preciso que, em cada país, o problema da desigualdade seja enfrentado com estratégias que sejam realistas e viáveis.

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MARIA CECÍLIA PRATES RODRIGUES
Rio de Janeiro - Brasil

Maria Cecília é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV , e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado.