Preservação da Amazônia: entendendo a polêmica

Por on 19/10/2019

Em tempos de crise, todos brigam, e ninguém tem razão. Políticos do  Grupo do G7 querem impor a preservação da Floresta Amazônica, alegando a condição de “pulmão do mundo” (não estou entrando no mérito se o termo procede). O governo brasileiro recém-eleito não quer imposições vindas de fora, sob a justificativa da soberania nacional. A Igreja Católica, que vem perdendo fiéis nessa região, quer se solidarizar para denunciar  o “caos social e ambiental” e buscar solução para o seu problema religioso.

Para entender a posição da Igreja Católica, recomendo a leitura da matéria especial do jornal O Valor (04/10/2019), Sínodo da Amazônia consolida Papa Francisco como líder na defesa do ambiente .

A Floresta Amazônica se espalha por 9 países da América do Sul, sendo 60% só no Brasil e, em 2º lugar, está o Peru, com 13%. No Brasil, a Floresta Amazônica se estende por 9 estados ( a chamada ´Amazônia  Legal`),  e onde vivem 20 milhões de brasileiros.  “A maioria vive muito mal: sem saúde, sem educação adequada, com índice de saneamento baixíssimo”.

De 2014 para cá, a crise econômica do Brasil e dos países vizinhos só fez agravar a situação social na Amazônia, exportando para lá mais pobreza, trabalhadores desempregados, milicianos, grileiros, traficantes, violência e também empreendedores, legais ou não.  Que querem ir desbravar a floresta ainda “sem lei”, em busca de novas oportunidades para si, e talvez acalentando o mesmo sonho de ficarem ricos como os colonizadores de Portugal e Espanha, nos séculos XVI e XVII. Ou, pelo menos, conseguirem mandar dinheiro para a família empobrecida que ficou, por exemplo, nas regiões do sul ou sudeste do Brasil….

Para entender o acirramento da crise social na Amazônia e o sentimento de insegurança e de piora sensível nas condições de vida da população local, recomendo o vídeo do Financial Times (23/09/2019) –  Amazônia brasileira: como o crime impulsiona o desmatamento. O aumento das queimadas e o desmatamento desordenado não será (apenas) o lado mais visível da crise?

A situação social na Amazônia é complexa. E nesse contexto conturbado não se pode simplesmente estereotipar quem representa o bem (o índio) e o mal (garimpeiro). A esse respeito, é bastante ilustrativa a conversa (no vídeo mencionado acima) entre os dois jovens de 18 anos – sendo um índio e o outro garimpeiro. Ambos consideram que têm o direito a viver da Amazônia…..  e por que não?

Evidentemente não faz sentido pretender preservar a Floresta Amazônica e os seus habitantes ao modo primitivo, na condição de parque natural intocável. Mas, é fundamental estancar a corrida por atividades predatórias e extrativistas, e preservar a Floresta Amazônica.

Não se pode conformar com um modelo de ocupação à antiga. As necessidades das populações, as disponibilidades dos recursos naturais e o nível de tecnologia são totalmente diferentes de tempos atrás.  Precisamos hoje de um novo modelo de desenvolvimento, que seja sustentável, “capaz de incluir a bioeconomia, de modo que ela faça parte da cadeia de valor para a produção de alimentos, fármacos, cosméticos, fragrâncias, óleos e enzimas, dentre outros”.

Para entender a questão do desenvolvimento na Amazônia, a partir de um diagnóstico e uma proposta de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, sugiro a leitura de um texto (curto, porém bastante objetivo) da Sylvia Coutinho, chefe da UBS no Brasil, publicado no Financial Times, (09/09/2019) – To stop the Amazon fires, rethink the development model

Enfim  é preciso bom senso para se chegar à melhor maneira para aproveitar a Amazônia. É fundamental que todas as partes interessadas nessa discussão sejam ouvidas, de modo realmente participativo (e não apenas para constar de que foram ouvidas), e se pactue um programa conjunto de desenvolvimento sustentável para a região Amazônica, e onde cada grupo contribua com o melhor de si.

 

Enquanto isso, no Sudeste……

Enquanto se discute sobre a preservação da Amazônia, nos grandes centros urbanos as árvores vão sendo cortadas sem a menor preocupação com a sua reposição. Essa é uma realidade que conheço de perto, tanto no Rio de Janeiro como em Belo Horizonte.

No lugar ficam apenas tocos, enfeitados, ou não, com plantinhas que costumam nascer nos tocos. A continuar nesse ritmo, muito em breve as ruas das cidades (antes arborizadas) se tornarão totalmente áridas!

Na foto abaixo, estão 3  tocos seguidos, sendo o último (lá no final) “vestido de plantinhas” e parecendo um arbusto.

 

 

 

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MARIA CECÍLIA PRATES RODRIGUES
Rio de Janeiro - Brasil

Maria Cecília é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV , e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado.