Sete dicas para mensurar um programa em RS

Por on 27/08/2020

Participei hoje de webinar do IGESC em parceria com eSolidar com o tema ‘ Como mensurar os resultados da RSE` (Responsabilidade Social Empresarial). Ou usando o termo que tem prevalecido atualmente, como mensurar um bom programa em ESG (do inglês Environmental, Social and  Governance).

Vou sintetizar a seguir os sete pontos que considero essenciais para implantar e mensurar um programa de RS (Responsabilidade Social), seja ele aplicado em uma empresa ou em uma organização do terceiro setor.

1 Regra de ouro: Medir apenas o que for relevante para a organização. Não adianta mirar nos referenciais de medição de Responsabilidade Social, e achar que quanto mais indicadores o “nosso” sistema tiver, melhor. O importante é que sejam indicadores consistentes com a realidade e os objetivos da organização, para realmente servirem como ferramentas de gestão.

2. Mapear e procurar conhecer os principais referenciais de medição em RS que já existem (como os do GRIDJSICDPISO 26000Sistema BIndicadores Ethos). A partir de suas listas exaustivas de indicadores, identificar os indicadores que se mostram mais adequados para o contexto da organização.  Em sentido figurado, é como se fôssemos a uma loja para ver todas as roupas da vitrine, e escolher as mais adequadas para o nosso feitio de corpo e o jeito de ser.

3. Começar pequeno, e ir aos poucos consolidando o programa de RS na organização.  Sempre monitorando, fazendo as correções de percurso, e aprimorando. Exemplificando com o caso dos Indicadores Ethos, há desde a versão inicial, ou básica,  com 12 indicadores, até a 4ª versão mais completa e abrangente, com 47 indicadores. Há também alguns Guias temáticos com detalhamento de indicadores para temas específicos, como prevenção e combate à corrupção, promoção da equidade racial, inclusão das pessoas com deficiência, dentre outros.

Até hoje a atuação em RS tende a ser percebida como fator de custo e acessível apenas a grandes empresas. Muito possivelmente é porque são essas organizações grandes é que têm tido visibilidade nas certificações, premiações e são elas que compõem os índices ESG dos fundos de investimento.

O ponto central é que, para ser bem sucedido, o programa de RS deve ter o tamanho da organização, ou seja, nascer com o seu fundador e ir amadurecendo à medida que forem surgindo os temas e desafios advindos do crescimento da organização. Fiz essa reflexão no artigo Sustentabilidade: será que agora é prá valer?

4. A construção do programa de RS deve ser participativa, e ir gradualmente agregando os públicos envolvidos com as questões que forem sendo incorporadas.   De modo algum, pode ser uma imposição vinda da direção da organização ou de padrões importados que não se coadunam com o contexto da organização. Ao contrário,  os colaboradores da organização têm que se sentir impactados em introjetarem os valores ESG, e, eles próprios, sentirem a necessidade de irem ao encontro de novas ferramentas para aprimorarem o seu sistema de indicadores.

5. O sistema de indicadores deve incluir indicadores de processo (para monitorar o que a organização faz / pretende fazer) e indicadores de resultados (para avaliar os resultados / mudanças alcançadas).  O problema é que muitas vezes a análise dos programas de RS acaba ficando capenga, se satisfazendo apenas com os indicadores de processo.

Voltando ao referencial dos Indicadores Ethos, veja que cada indicador é composto por questões qualitativas e perguntas quantitativas, que vão caracterizar a evolução da organização em relação a determinado indicador.  Em se tratando das questões qualitativas, são definidos 5 blocos de afirmativas que caracterizam os 5 estágios, indo do inicial (apenas cumprimento da legislação) até ao do protagonismo (de atuação em rede).

Veja o caso do indicador Ethos 35  (Compromisso com o Desenvolvimento da Comunidade e Gestão das Ações Sociais), da dimensão Social. Observo que todas as questões que compõem esse indicador estão restritas a identificar o que a organização faz, e não os resultados de suas ações.  Na sua posição de referência de indicadores de RS no Brasil, seria fundamental que os indicadores Ethos tivessem sempre uma abordagem de resultados, seja para o público beneficiado diretamente, seja para a organização como um todo.

6. Há várias maneiras para analisar o desempenho em RS a partir da base de indicadores da organização. Primeiro, acompanhar a evolução de cada indicador da organização, rumo à meta planejada. Segundo, para um mesmo indicador, comparar o desempenho da nossa organização vis-à-vis ao de outra organização semelhante do mesmo setor – o complicado aqui é encontrar essa organização (ou grupo de organizações) verdadeiramente semelhante, para não distorcer a comparação.

As outras maneiras são baseadas na construção de número-índice, à semelhança da metodologia do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), da ONU, dessa forma conseguindo traduzir diferentes unidades de medida em uma única (que é o número-índice). Há mais tempo escrevi um artigo  (Avaliação da gestão social nas empresas: desafios e possibilidades)  para explicar sobre a construção do IRS – Índice de Responsabilidade para analisar as empresas de um determinado setor.

 Assim, para cada indicador, se atribuir valor igual zero para o pior desempenho possível, e valor igual a 100, para o melhor desempenho possível; os demais desempenhos são estimados por interpolação linear. Dessa forma, se consegue comparar os diferentes aspectos da RS dentro de uma mesma empresa (Envolvimento com a comunidade Vs Relações com os consumidores), entre as empresas do setor, e construir indicadores sintéticos (ou compostos) de RS.

7. Ser transparente na discussão e apresentação dos indicadores de RS, tanto com os públicos da própria organização como com os públicos externos. Os indicadores de RS não devem ser usados como instrumentos de marketing, que só apontam para o lado bonito da organização, mas sim como ferramenta de gestão e de comunicação com os seus públicos. É preciso evidenciar o que está indo no caminho certo, mas também explicitar as dificuldades, o que precisa ser melhorado, e o que vem sendo feito nesse sentido. Essa atitude de transparência transmite credibilidade e constrói parcerias. Ao contrário, ser opaco e omitir as informações que não convêm gera desconfiança e destrói relacionamentos. Haja vista os casos recentes da Petrobras, Vale e JBS, cujos relatórios eram premiados e bem avaliados segundo os critérios ESG … o que veio depois, a gente já sabe. 

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MARIA CECÍLIA PRATES RODRIGUES
Rio de Janeiro - Brasil

Maria Cecília é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV , e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado.