Tesla X Exxon: há incoerência no DJSI?

Por on 27/06/2022

Em maio último a Tesla foi excluída do DJSI (Dow Jones Sustainability Index), tido como índice de referência global em ESG (Environmental, Social and Governance). Vale lembrar que a Tesla, fundada em 2003, é uma grande fabricante de veículos totalmente elétricos e também de outros produtos à base de energia limpa. Tem como sua missão  “acelerar a transição do mundo para a energia sustentável”.  

Elon Musk, CEO e dono da Tesla (21% das ações), ficou revoltado por sua empresa ter sido desclassificada nessa última revisão do DJSI (ver matéria). Ainda mais que, segundo ele, a Exxon, uma multinacional produtora de combustíveis fósseis,  ficou entre as 10 melhores em ESG no Índice. Musk saiu atirando por todos os lados, e afirmou que o DJSI é “uma farsa, virou uma arma dos falsos guerreiros da justiça social” Musk tem razão?

A meu ver, não!  Como já comentei há algum tempo em artigo anterior no blog, há uma distinção nítida entre empresa de impacto e empresa ESG, ou socialmente responsável. A empresa de impacto  diz respeito ao objetivo (missão), ou à razão de ser da empresa. Então, sem dúvida a Tesla é uma empresa de impacto.

Já a empresa ESG diz respeito ao modo de funcionar da empresa, aos processos de gestão adotados pela empresa. O DJSI tem justamente como finalidade mensurar esse modo de funcionar das empresas que compõem o DJI (Dow Jones Index), e pontuá-las segundo um índice-síntese, que varia entre zero (pior desempenho) e 100 (melhor desempenho).

Então, quanto ao modo de operar, a Tesla pode ou não ser classificada como ESG.  Ocorre que, nessa última revisão do DJSI, a Tesla deixou de ser classificada como empresa ESG.  Veja que as razões alegadas pela equipe responsável do Índice foram sobretudo  relacionadas à dimensão social, ou seja, questões de discriminação racial, más condições de trabalho em fábrica da Tesla e à forma como a empresa lidou com a investigação de agências reguladoras dos EUA após mortes e acidentes envolvendo os veículos com autopilotagem da montadora.  Ou seja, podem, sim, ter sido motivos mais do que suficientes para terem feito despencar o índice ESG da Tesla.

Evidentemente, essa discussão não se esgota. Primeiro, no caso específico do DJSI, é preciso conhecer mais de perto a metodologia do Índice para entender as diferenças de pontuação entre a Tesla e a Exxon para os diferentes indicadores, e se há pesos distintos para eles. Segundo, o que essa discussão ESG entre Tesla X Exxon mostrou  é que, de modo geral, ainda precisamos avançar bastante na medição e comparabilidade dos indicadores ESG,  sobretudo os da dimensão social e de governança; e também na análise entre empresas de setores diferentes.

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MARIA CECÍLIA PRATES RODRIGUES
Rio de Janeiro - Brasil

Maria Cecília é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV , e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado.