Será que devemos mesmo estimular a filantropia no Brasil?

Por on 21/10/2016

Até bem recentemente, o termo filantropia no Brasil costumava ter sentido pejorativo, associado a assistencialismo, ajudas paliativas que não buscam a solução para os problemas sociais, e até disfarce para a corrupção (“pilantropia”). Já nos Estados Unidos e na Europa, tende a prevalecer uma acepção positiva, relacionada a doações dos indivíduos, das famílias e das empresas (de dinheiro e/ou de tempo) em benefício dos mais necessitados, com o significado de generosidade e de contribuição por um mundo melhor.

Os ventos estão começando a soprar diferente em nosso país. No final do ano passado, Elie Horn, empresário brasileiro e fundador da Cyrella, anunciou que pretendia doar mais da metade do seu patrimônio, estimado em US$ 1 bilhão, e fez um veemente apelo para que mais pessoas, sobretudo os empresários, aderissem à filantropia. O dia nacional do voluntariado (28 de agosto) ganha cada vez mais adeptos; e, em 2013, o Brasil aderiu ao #dia de doar (em 2016, será 29 de novembro), uma maneira de promover a cultura da doação em nosso país.

Em artigo que escrevi recentemente para a Revista Filantropia, levanto os seguintes pontos para reflexão:

§ Comparado a outros países, qual é o atual estágio da filantropia no Brasil?

§ Por que as pessoas e as empresas decidem fazer filantropia?

§ Potenciais riscos: Quais as críticas à atuação dos filantropos? É nos Estados Unidos, país em que mais se avançou no campo da filantropia, que começam a ganhar força as críticas à atuação dos filantropos.

§ Afinal, estimular a filantropia no Brasil – sim ou não? Quais os cuidados a serem tomados para potencializar os aspectos positivos e neutralizar os aspectos negativos?

Concluo que devemos, sim, estimular a filantropia no Brasil, tendo em vista o seu potencial positivo na promoção do bem público. Primeiro, por representar uma oportunidade de canalizar novos recursos (além dos públicos), seja por meio de doação em dinheiro ou de trabalho voluntário, para enfrentar os muitos problemas sociais existentes em nosso país. Segundo, por representar uma maneira diferenciada de tratar as questões sociais, com menos burocracia e mais competência para atuar com o foco em resultados. E terceiro, por não estar atrelada a ciclos eleitorais curtos e, portanto, poder se comprometer com um horizonte de trabalho de mais longo prazo.

Porém, precisamos estar conscientes de que quando a filantropia se expande, como se deu nos EUA, e adquire novo formato [a ideia do valor compartilhado ou do filantrocapitalismo], ela também passa a apresentar riscos que antes não existiam. Um deles é a ampliação do poder político dos filantropos vis-à-vis aos governos e aos cidadãos comuns. O outro risco é o fortalecimento econômico dos filantropos e dos seus negócios, em descompasso com a transformação social que eles produzem.

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MARIA CECÍLIA PRATES RODRIGUES
Rio de Janeiro - Brasil

Maria Cecília é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV , e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado.